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Março de 1994. Entrávamos na faculdade e tínhamos um sonho. Um sonho de realização profissional dentro de uma área tecnológica, sendo que a maioria de nós nem ao menos conhecia o real significado dessa profissão. Quantas vezes sorrimos sem jeito e desconversamos quando nos víamos diante da intrigante pergunta: O que faz o Engenheiro Químico? Apesar de nossas dúvidas e incertezas, mantivemos nosso sonho. Muitos, decepcionados ou desanimados com as pedras ao longo do caminho, desistiram ou preferiram ir em busca de outras metas, no entanto, continuamos seguindo, pois sempre tivemos a certeza de que por menor que fosse a semente lançada à terra, sendo ela de boa qualidade, com certeza, brotaria. E assim chegamos ao dia de hoje, quando não mais precisamos nos constranger diante da famosa pergunta. Sabemos o que é ser engenheiros químicos.
A caminhada até aqui não foi fácil. Como já dizia uma quadra do poeta Antonio Zoppi: "Sapiência não se esmola, deve ser adquirida: na doce vida da escola ou na acre escola da vida". Assim, era comum nos perdermos no vai-e-vem dos corredores do prédio de Tecnologia quando fizemos a primeira prova de geometria descritiva. Naquele dia, diante do fracasso quase geral da turma, começamos a perceber e a entender que, para que um dia chegássemos a Engenheiros, ainda teríamos um longo e, muitas vezes, tortuoso percurso pela frente.
E estávamos apenas no começo. Mal sabíamos que, já no segundo ano, teríamos de compartilhar com estudantes de vários cursos a agonia das filas intermináveis diante do salão de provas lotado, para enfrentarmos o terrorismo infantil de alguns professores durante as provas de Física B. Naquele ano, acostumamo-nos a passar todas as nossas manhãs e tardes no Centro Politécnico. Almoçávamos na Cantina, no RU ou no restaurante carinhosamente apelidado de "fumacinha", para depois seguirmos para mais uma jornada de aulas. A cantina interna era uma festa, pois já nos considerávamos verdadeiros e experientes veteranos.
No terceiro ano, vieram as disciplinas mais complexas, quando "efetivamente", dia após dia, nos era "sugerido fortemente" um empenho e estudo muito maiores do que poderíamos oferecer, diante do tempo que dispúnhamos. Perdidos entre os carbocátions da Química Orgânica e as vigas da Resistência dos Materiais, aprendíamos também as Operações Unitárias e, finalmente, parecia que a Engenharia Química nascia para cada um de nós.
Assim chegamos ao quarto ano mais maduros, prontos para enfrentarmos tanto a experiência profissional do estágio, quanto às madrugadas reunidos para a realização dos relatórios de Laboratório de Engenharia Química e dos trabalhos de Reatores Heterogêneos. E, realmente, foram muitas madrugadas no quarto ano... Madrugadas de festa ou sono tranqüilo durante o estágio contrastando com madrugadas à frente do computador, na companhia dos colegas, estudando, calculando, discutindo, para a realização dos trabalhos.
O quinto ano foi a época em que percebemos que nossa vida de estudantes estava chegando ao fim... A turma tentou se unir, deixar as famosas "panelinhas" de lado, resolveu passar mais momentos agradáveis juntos, como nos churrascos e festas que até então não eram tão freqüentes. Enfrentamos a greve de três meses dispostos a tudo para garantir que o dia de hoje não fosse adiado. Batalhamos pelo projetão, como a realização final do curso e como a oportunidade de mostrarmos os conhecimentos adquiridos ao longo destes anos. E mais uma vez, abrimos mão de diversos fins-de-semana, noites de sono, festas e momentos de lazer para que pudéssemos terminá-lo. Quantas vezes tivemos a impressão de que ele nunca chegaria ao fim? Por este motivo, orgulhamo-nos de nosso trabalho... Ele é a prova de que, apesar das muitas dificuldades encontradas durante o curso, como a escassez de investimentos, equipamentos e laboratórios obsoletos e, principalmente, carga horária excessiva, levaremos como maior legado deste curso universitário, não as soluções para todos os problemas nem as respostas para todas as dúvidas, mas sim, as ferramentas necessárias para que possamos encontrá-las. Do mesmo modo, tendo em vista o resultado do Exame Nacional de Cursos do MEC, no qual o grau máximo de desempenho foi atingido pela turma, podemos afirmar com certeza que, ainda que muitos questionassem nossa capacidade, cumprimos com o nosso papel e colocamos o Curso de Engenharia Química da UFPR entre os melhores do país, abrindo várias portas para as novas gerações de engenheiros que estão por vir.
Março de 1999. A crise econômica que o país atravessa no momento gera desemprego, falta de oportunidades e dificulta os investimentos em novos empreendimentos. Paralelamente a este cenário pessimista, estamos chegando ao fim de mais uma jornada. Certamente não será a última; pelo contrário, mais longa ainda é a jornada que se inicia com nosso ingresso na vida profissional. Ainda temos um sonho. Não é o mesmo sonho do início do curso, no entanto continua sendo um sonho de realização profissional dentro desta área tecnológica, sendo que agora precisaremos enfrentar barreiras ainda mais difíceis para que consigamos ocupar um lugar no Mercado de Trabalho. É hora de equacionarmos nossos anseios, planejarmos o nosso trabalho e pensarmos nas soluções que necessariamente teremos de exercitar. Sobre nós pairam a responsabilidade e a esperança de uma nação que não podem nem merece mais esperar por um futuro melhor. A grande diferença entre os calouros do passado e os formandos de agora é que, no momento, conhecemos o significado dessa profissão e os obstáculos para que ela seja exercida, o que não esmorece nossa garra e determinação para que o diploma hoje conquistado não venha a servir apenas como um enfeite em nossas vidas.
(Autor Desconhecido)
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